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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Deixei esse poema de lado, descansando, crescendo, conforme o seu tempo. Adubando, respirando, fazendo fotossíntese, criando sua linguagem. Digerindo-se, encontrando-se, perdendo-se, se necessário. Eu não o esqueci, mas o deixei tomar sua forma por si só. Dei espaço, dei tempo, dei autonomia. Quando me dei conta já tinha criado pés, mãos, braços e pernas. Já não tem versos, já não tem rima, não sei mais o que é. Formou seu próprio rosto, sua própria identidade, seu próprio corpo. Tem gírias, tem cheiros, tem dentes que me mastigam e me devoram, mas não me digerem e me fazem voltar. Me rumina, me domina. Me coloca onde bem entender, faz de mim o que quiser. Não sei se sou vítima, se sou culpada, se sou estúpida, mas fico porque quero. Ou porque ele me faz querer ficar.